A crítica de Kate Mulley da peça GENERATIONS (in Portuguese)

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O Soho Repertory Theatre, localmente conhecido como Soho Rep (localizado à Rua Walker, no. 46, em TriBeCa) transformou seu espaço numa cozinha de um township sul-africano (termo referent a áreas urbanas que, sob o regime do Apartheid, estavam reservadas aos não brancos, e.g. negros, mulatos, etc.). Seu piso foi coberto de areia, aço corrugado colorido foi  posto nas paredes, e vende-se cerveja sul-africana no bar do teatro. O público se senta em tamboretes e cadeiras plásticas, rodeados por membros de um coro poderoso. A estética desta produção de Generations, de Debbie Tucker Green, é demasiadamente difícil e confusa, de modo que o propósito da peça em si fica ofuscado.

Generations – que traduzido para o português literalmente significa gerações – conta a estória de uma família numa maneira não convencional e ligeiramente enigmática, cuja filha se apaixona por um jovem, e quando ele lhe pergunta se ela sabe cozinhar, isso impele uma longa conversa a respeito de ela saber ou não saber cozinhar, e também se as outras mulheres na família dela sabem cozinhar. As cenas são interrompidas com explosões de canto coral, e os personagens, de pouco a pouco, deixam suas cenas, e suas falas também são retiradas de cena. As cenas ganham e perdem significado, através desse artifício na escrita da peça, até que restam apenas dois personagens no palco, melancólicos da perda de seus familiares.

Escrita como resposta à crise de AIDS na África do Sul, Generations estreou no Young Vic em Londres em 2007, e agora está fazendo sua estreia nos Estados Unidos no Soho Rep, em co-produção com The Play Company. Esta produção, dirigida por Leah C. Gardiner, tem peso e emoção extrema, mas ocasionalmente ela parece manipular o público quando o coro gira ao nosso redor, ao passo que os diálogos ficam cada vez mais escassos. Os atores, às vezes, não parecem seguros de si mesmos, ou talvez inseguros dos dialetos na estória, ou incertos de como atuar naturalmente com um texto que é tão desafiante em sua forma. Desta forma, a peça parece ser de bom conceito, conceito este, porém, que não parece enquadrar-se às palavras ditas pelos personagens.

Inicialmente, a produção tinha a intenção de oferecer uma refeição sul-americana para o público a ser servida após a apresentação, mas durante os ensaios mudou-se de ideia, o que parece refletir na compreensão dificílima tanto da peça em si, assim como da experiência teatral desta produção, que a equipe tinha esperança de apresentar. Será que estamos assistindo a um concerto, a um peça, a uma experiência imersiva, ou a algo completamente diferente? Parece que estas são perguntas comuns, mas as respostas a tais perguntas, nesta produção, ficam a desejar.

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CRITICA DE TEATRO por Kate Mulley, Nova Iorque

TRADUÇAO por Lucas Eller, Nova Iorque