Michael Keaton mostra seu talento de dramaturgo – bem como de comediante – na escura comédia de bastidores, O Homem-Pássaro.
Michael é Riggan Thomson, um ex-astro de um programa de TV de super-herois que está determinado a reviver sua carreira. Sua ideia: adaptar uma curta estória de Raymond Carter para o palco (palco da Broadway, nada menos) e não apenas dirigí-la, mas também aparecer nela. Ninguém gosta muito da ideia – nem sua esposa, nem sua filha mal-humorada, nem a crítica de teatro de língua ácida do New York Times, que já está fazendo planos para destruir a peça (ela pensa que ele é um “palhaço de Hollywood). Somente seus colegas atores acreditam que a peça tem algum potencial.
Riggan, porém, batalha bastante por toda a trajetória – as dúvidas e a auto-aversão, a petulância que seu novo co-estrela demonstra durante uma pré-estreia esbravejando e desistindo do palco, e (o mais hilariante dentre estes acontecimentos), a porta de trás do teatro trancada, que obriga Riggan a andar vestindo apenas cueca enquanto circula em volta do teatro pelas ruas, entrando de volta no teatro pela entrada principal seguindo pelo corredor que vai até à orquestra. (Certamente uma experiência que seria o pesadelo de qualquer ator.) E, claro, também a voz sinistra e insistente em sua mente, de seu alter-ego do passado, o Homem-Pássaro – persuadindo-o a enterrar essa ideia lunática de produção teatral de uma vez por todas, e produzir, ao invés, outro de seus filmes, O Homem-Pássaro.
Keaton é formidável: calvo, enrugado, tão velho quanto jamais visto, sua face marcada com rugas de preocupação em algumas cenas e iluminada com entusiasmo em outras, ele mostra toda a extensão da emoção humana, e muito mais! Como sua filha passando por reabilitação, com quem ele tem toda uma espécie diferente de problemas, Emma Stone – toda loira, com maquiagem forte e severa repreensão – é totalmente crível; Edward Norton, o ator volátil que aparece para salvar o show e quase que o destrói completamente, é excelente; e Zach Galifianakis, quase irreconhecível como o conselheiro atormentado de Riggan, é admiravelmente preciso.
Muito tem sido escrito sobre a aparência de O Homem-Pássaro, como a câmera segue todos os personagens tão intensamente, como se o filme inteiro tivesse sido filmado num único take (de uma vez só). E é claro que não foi, isso é apenas uma impressão que se tem; se você prestar bastante atenção, vai encontrar os cortes. Bem, certamente o trabalho de câmera é muito criativo, e dá à ação uma relação imediata, uma sensação de credibilidade que faz parecer que você está na estória; sem tal efeito, não haveria a mesma sensação.
Os locais em Nova York são filmados de maneira belíssima – o Teatro St. James (por dentro e por fora), as grandes calçadas na área da Broadway, a diversão e frenesi de Times Square à noite – e o diálogo tem uma característica de improvisação que passa um ar de agradavelmente genuíno.
É um filme perfeito? Certamente não é. Boas chances de receber o Oscar têm Keaton, Stone e Norton, e também ao diretor Alejandro Gonzalez Inarritu. Certamente é merecido um Oscar a Inarritu e seus colegas de trabalho, por seu excelente desempenho.
Já meu voto para o Oscar…provavelmente vai para um outro filme.
CRITICA CINEMATOGRAFICA por Stuart R. Brynien, Nova York
TRADUÇAO por Lucas Eller, Nova York