Espetacularmente criativa e — acima de tudo — muitíssimo engraçada, “Peter and the Starcatcher” (baseada no romance de Dave Barry e Ridley Pearson) não é exatamente a estória do Peter (Pan) a que estamos acostumados, é uma estória de um Peter totalmente desconhecido. No começo da peça, ele ainda não é o mágico e endiabrado Garoto-Que-Nunca-Cresceu; na verdade, ele é um órfão sujo e desgrenhado que está sendo pastoreado pelos mares com um grupo de garotos também órfãos, para uma ilha onde — de acordo com seu mestre sádico — eles serão vendidos como escravos. Há um capitão heroico, uma caixa de pó mágico, um vilão sublimemente malvado chamado Bigode-Negro (Black Stache), que acredita estar à busca de um tesouro perdido… e, claro, a ilha acima mencionada, onde Peter passa a ser Pan (com a ajuda de uma sereia), e tudo acaba, mais ou menos, feliz.
Todos os jovens rapazes da peça são interpretados por homens, e o chefe entre eles é o Peter, retratado com uma certa inocência de garoto (de olhos arregalados e muito curioso) pelo excelente ator Adam Chanler-Berat. Destaca-se também com grandeza, apesar de seu pequeno tamanho, a atriz Célia Keenan-Bolger como Molly, a pequena garota (que dá o nome à peça Starcatcher), que tem um vínculo com Peter desde o início. Corajosa e com muita força de vontade — força oposta à de Peter — ela é tão animada quanto um dervixe rodopiante; ela é tão fascinante que qualquer um iria com ela para o fim do mundo.
O verdadeiro astro do show, porém, é Bigode-Negro, na atuação de Christian Borle — com um desempenho tão espetacular que você não consegue tirar os olhos dele no palco. Não há como descrever sua atuação com palavras, ele é mais brilhante do que a produçao da peça conseguiu dizer em seus comerciais. Arremessando-se no palco, causando gargalhadas roucas na plateia até mesmo com um inclinar de sobrancelha ou com um enrolar de língua, como o palhaço engraçado que ele é (não perca a cena onde ele vira Capitão Gancho; não tem preço), Borle parece uma máquina que se movimenta constantemente.
O roteiro hilário de Rick Elice, a direção de Roger Rees e Alex Timbers, o brilhante cenário à bordo do navio e rumo à ilha de Donyale Werle, o figurino de Paloma Young (inclusive a linda roupa das serias no início do Ato II — um visual gay) … tudo e todos contribuem para uma noite no teatro da Broadway tão divertida quanto jamais me diverti o ano inteiro.
Crítica de Teatro por Stuart R. Brynien
Notas do tradutor:
1. A última atuação de Christian Borle no palco como o Bigode-Negro (Black Stache) será no dia 30 de junho. Para comprar bilhetes, vá às cabines chamadas TKTS, localizadas debaixo das escadarias para turistas no encontro da Broadway com a Rua 47, em Times Square, New York.
2. Dervixes rodopiantes (whirling dervishes): são dançarinos de um grupo religioso turco, com aparentes traços de origem no século XIII, no Império Otomano.
3. Black Stache, ou Bigode-Negro: Black Stache é o nome dado ao personagem desta peça da Broadway de Nova York, em que “black” significa “preto” ou “negro”, e “stache” significa “moustache” em inglês, em português o significado é “bigode”. Para soar engraçado, o nome foi reduzido de “moustache” a “stache”. Quando a gente ouve o nome dele pela primeira vez, a gente ri alto, porque tem um som hilário. E quando o personagem entra no palco, com um bigode horrível, sem parar de se movimentar, a gente ganha uma dimensão mais próxima de quão engraçado ele é. Vale também dizer que a atuação de Christian Borle é magnífica. Eu, como tradutor, escolhi que Bigode-Negro daria um tom de graça, um certo charme e humor ao personagem; imagine que você seja apresentado a alguém pela primeira vez, e a pessoa diz que seu nome é Bigode-Negro, e tal pessoa tenha realmente um enorme bigode… preto! Sua reação espontãnea seria um sorrizo engraçado, ou até mesmo uma gargalhada.
4. Meu nome é Lucas Eller, e esta é minha primeira traduçao de peças dos teatros da Broadway, em Manhattan, Nova York, tradução feita do texto do escritor Stuart R. Brynien. Há dois anos e meio, publico a revista Viva! Lifestyles, uma revista cultural da cidade. Quase todo o foco da revista tem sido onde moro, trabalho e me divirto indo aos teatros, restaurantes, bares, e em locais públicos, como as praças, parques, pontes, edifícios de construção magnífica, entre tantos outros locais. Como se costuma dizer aqui, Nova York é o centro cultural do mundo, e agora que tenho vivido esta experiência por mais de uma década, compreendo o porquê de tal ditado popular. Espero que todos que tenham recebido este email tenham gostado de ler minha tradução, e que compartilhem com seus amigos, suas amigas, e sua família. Uma coisa que vale aqui acrescentar é que vamos sair um pouco do foco Midtown Manhattan, que é uma pequena área dentro da cidade, porém onde “tudo acontece”, e vamos expandir para outras áreas onde há acontecimentos interessantes, no Brooklyn, como o Jardim Botânico do Brooklyn (Brooklyn Botanical Garden), Cony Island, minha praia favorita na cidade de Nova York, que tem um calçadão de madeira, o cachorro-quente mais famoso do mundo chamado Nathan’s, um parque de diversão que foi renovado recentemente, e o New York Aquarium, uma das mais fascinantes experiências que alguém pode ter acerca de um aquário. O papel de uma revista cultural da dimensão da Viva! Lifestyles é cobrir áreas onde há importantes eventos culturais, e a nossa revista está fazendo seu papel aos poucos, porém com uma firmeza que lhe está garantido papel de destaque entre publicações culturais da Cidade de Nova York. O website pode ser visto aqui: www.vivalifestyles.net
This is Lucas Eller’s translation of Stuart R. Brynien’s review of “Peter and the Starcatcher” on Broadway. For the original English version, search for “Peter and the Starcatcher” — skip “in Portuguese”.