De marco quilométrico a marco de família, dos sonhos de infância à angústia de adolescente, do desgosto de um dos pais ao triunfo do outro, o experimento cinematográfico do diretor Richard Linklater, “Da Infância à Juventude”, abrange uma enorme quantidade territorial…e cada momento é fascinantemente convincente.
A estória se passa ao redor do jovem Mason, Jr. – o “boy”, ou seja, “menino”, do título original em inglês, “Boyhood” (infância de um menino) – o membro mais jovem de uma família monoparental, que vive com sua mãe e irmã mais velha. No início do filme, ele é um aluno de escola primária de cabelos longos, braços franzinos e joelhos ossudos, e, em todos os sentidos, simplesmente cativante. Obviamente, a ideia central do filme é que, com o passar dos anos, vemos o jovem Mason crescer (assim como o ator que faz seu papel), indo da infância ao fim da adolescência; o pequeno garoto, no princípio, que acabou de sair da pré-escola, é visto até sua ingressão ao curso superior. Consequentemente, realmente passamos a conhecer muito sobre Mason, a final de contas, vemo-lo crescer ao longo da estória. A audaciosa aproximação de Linklater, filmando seus atores por uma ou duas semanas, uma vez por ano, durante 12 anos – uma decisão tão corajosa quanto possível na história da cinematografia – valeu a pena.
São os pequenos momentos, os pequenos detalhes deste filme que lhe dão vida: a relutância de Mason para fazer sua lição de casa, um hábito corriqueiro até o fim do ensino médio; a cena em que Manson e seus amigos se juntam para ver um catálogo de lingerie, de olhos arregalados nos detalhes do corpo feminino, a que eles tanto anseiam explorar, quando estiverem amadurecidos; a parte em que Mason, ainda mais jovem, concorda em se juntar a um grupo de garotos mais velhos em um “festival” de testosterona em que o assunto é sexo. (Mason, certamente, de natureza tão doce e gentil, tenta não levar muito a sério o tema, mostrando estar bastante desconfortável com os outros.)
Como pai – e, era uma vez, o garoto curioso que fui – consegui me relacionar com toda esta estória. E é isto que é genial sobre “Da Infância à Adolescência”: sua ressonância. A atuação também ajuda muito; tudo parece tão real que não me surpreenderia se Linklater pedisse aos atores que improvisassem as cenas. Atuando como Mason, o ator Ellar Coltrane, não se mostrando muito emotivo de forma brilhante, é tão autêntico desde o princípio, quando ele é um pequeno garoto de cabelos loiros, até o fim; Lorelei Linklater (filha do diretor) é maravilhosa como a irmã de Mason; Patricia Arquette, sem parecer estar atuando, ou seja, sua atuação faz seu personagem parecer real, é perfeita como a devota e trabalhadora mãe solteira, uma mulher que não parece jamais ter sorte com homens, e que nunca perde o foco de que as pessoas mais importantes de sua vida são seus filhos; e Ethan Hawke, metamorfoseando de cabeludo, pai guitarrista e ausente (exceto em suas visitas semanais), a um homem de idade mediana e bem empregado e com perspectiva de vida, é perfeito – e, a todo momento, é perfeitamente encantador e divertido – como o pai.
Resumindo, “Da Infância à Adolescência” vai encantar você – e talvez o inspirará a abrir o velho álbum de família e relembrar dos momentos em que as fotografias foram tiradas. É assim este filme: emocionante, e muitas vezes, de partir o coração.
CRITICA CINEMATOGRAFICA de Stuart R. Brynien, Nova York
TRADUÇÃO por Lucas Eller, Nova York